sábado, 29 de janeiro de 2011

Ímola, 1994

Esta noite sou eu e minhas palavras. Pois eu as tenho, sempre as tive, em meu favor, como minha certeza, meu comunicado.

Sempre me vali dos meus sujeitos. Dos meus verbos, dos meus objetos, diretos ou indiretos; sempre tive a poesia escondida em cada canto do meu quarto, do meu ser. Minhas histórias reais, minhas ilusões gostosas sobre histórias infantis, minhas próprias versões do bem e do mau, minhas próprias 1001 histórias para contar, a cada noite, uma história diferente, as 1001 maneiras de uma mesma história.

Mas, se existe uma teoria que justifica as conseqüências de todas as ações, também as palavras deveriam possuir sua própria Teoria do Caos.

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‘’ - E a minha coragem?

- Meu bom leão, você já tem coragem de sobra. Basta ter confiança em si mesmo. O medo faz parte da vida de quem teme o perigo.’’

(O Mágico de Oz)

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Nunca fui o tipo de pessoa que se pode julgar corajosa. Eu admito minha covardia; desde insetos até violência e solidão, passando por medinhos menores e despropositados, admito, com toda a cara-de-pau do mundo, a minha pequena (ou nem tão pequena assim) parcela de covardia.

Meu medo é relativo; costumo morrer de medo das situações antes que aconteçam, mas uma vez frente a elas, e certa daquilo que deve ser feito e do que desejo fazer, costumo virar uma leoa, não covarde, mas feroz, cheia de garra e de uma força e vontade intensas e explosivas.

Existe o medo do desconhecido, criando em nossas mentes uma série de hipóteses tão assustadoras como maravilhosas, pequenas cenas dramáticas, vislumbres de um futuro ainda não formulado. Seria este futuro divino ou catastrófico? 50% de chance, 100% de expectativa.

Existe o medo do ‘’não’’. E não se enganem, existe pois, também, o medo do ‘’sim’’. Palavras pequenas estas, certeiras. Pedrinhas minúsculas contra a vidraça da nossa janela.

Existe o medo do próprio medo. Medo de não corresponder, não dar conta, medo de amarelar. Medo de ter medo, e de demonstrar.

E existem as coragens;

Coragem de conhecer aquilo que não se conhece, ainda que para isso precisemos de certa preparação psicológica e uma dose de uísque.

Coragem de falar o que pensamos, e de ouvir o que devemos; sem meias-palavras ou longas e tenebrosas explicações.

Coragem de ir até o perigo com as pernas trêmulas e as mãos suadas, coragem de procurar as formas mais inusitadas de vencer os obstáculos; a coragem de admitir que estamos com medo.

E a coragem de ir lá dar a cara a tapa pro medo: chamar o medo pra brincar no seu quintal, incentivá-lo a ser o pegador no jogo de pique-esconde. Enquanto o medo conta, você nem pensa mais em um bom esconderijo; deixa o pé aparecendo por baixo da cortina; você deseja enfrentá-lo, deseja poder inverter as posições. Na próxima rodada, você irá procurar por ele.

Assim como o Leão Covarde, já quis ser corajosa.

Afinal descobri que a coragem também é relativa, uma relatividade dependente de fatores diversos, das histórias, do tempo, das circunstâncias, e principalmente, da confiança que temos em nós mesmos.

Da confiança que temos naqueles que porventura nos acompanharão nem é preciso comentar nada; é primordial. Faz a gente abrir a mente e o coração pras coragens do outro, tornando-as pouco a pouco um tanto mais nossas. E quem disse que não temos nenhuma coragem dentro de nosso coraçãozinho medroso para apaziguar os medos do outro?

Medo todo mundo tem, de alguma coisa, de muitas coisas. É preciso acostumar-se com as novas situações, habituar-se ao jogo de roleta russa que a gente joga todo dia sem sequer dar conta. E não é fácil. A bala pode estar em qualquer câmara do tambor. Num revólver de seis balas, ninguém espera pela sétima. A vida é cheia de surpresas.

Aquele que teme a morte num jogo de roleta russa é aquele que deste deseja sair vencedor; é aquele que luta, pela vida.

É preciso coragem para lutar pela vida. Somente os que nada têm a perder, jogam roleta russa confiando no revólver.

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O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras - acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de auto-preservação.

(Ayrton Senna)

Ayrton Senna nunca teve medo de arriscar, tornando-se um ídolo do povo brasileiro, cuja garra e coragem conquistaram milhões.

Conta-se que no dia de sua morte, Ayrton teria dito a sua namorada Adriane Galisteu que estava com medo daquela corrida.


"Tenho medo da morte e da dor, mas convivo bem com isso. O medo me fascina."

(Ayrton Senna)


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Não existe corajoso que nunca tenha tido medo. Corajoso é aquele que conseguiu dominar seus temores, e vencê-los.

(Ana Cláudia Miranda de Carvalho)


(28 de janeiro de 2011, Débora Magno)